JOHN BUNYAN: ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE DONS E HABILIDADES

| 17 de mai. de 2013 | |
Além disso, me foram mostradas notáveis passagens da Palavra que contêm declarações perspicazes e penetrantes sobre a perdição da alma, a despeito de dons e talentos. Estas palavras, por exemplo, têm sido muito úteis: "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine" (1 Co 13:1). Um címbalo é um instrumento com o qual um músico habilidoso pode tocar melodias alegres e estimulantes, e todos os que o ouvem dificilmente param de dançar. Contudo, o címbalo por si mesmo, não possui vida nem produz a melodia; esta nasce da habilidade daquele que o toca. No final, o instrumento pode vir a ser nada e perecer, embora melodias tão alegres tenham sido tocadas nele, em tempos passados. Era assim que eu via a situação presente e futura daqueles que possuem dons, mas não a graça salvadora: estão nas mãos de Cristo como o címbalo estava nas mãos de Davi; e, como Davi podia, a serviço de Deus, tirar do címbalo música que elevava o coração dos adoradores, assim Cristo pode usar esses homens habilidosos para tocar a alma de seu povo na igreja e, depois de ter feito tudo que intenta, colocá-los de lado como algo sem vida, apesar de tocarem como címbalos.

Esta consideração, portanto, junto com algumas outras, eliminou, na maioria das vezes, o orgulho e o desejo de vanglória. Eu pensei: como me orgulharei se sou bronze que soa? É valioso ser um violino? O menor dos seres vivos não possuem mais de Deus do que esses instrumentos? Além disso, eu sabia que o amor é que nunca morreria, mas os outros dons cessariam e desapareceriam; então, concluí que um pouco da graça, um pouco do amor, um pouco do verdadeiro temor de Deus são melhores do que todos os dons. De fato, estou plenamente convencido de que é possível às pessoas deficientes no falar - ou seja, pessoas de expressão pobre e confusa - possuírem mil vezes mais graça, podendo, assim, descansar mais no amor e no favor do Senhor, do que outros que, pela virtude do dom do conhecimento, podem falar com voz de anjo.

Então, entendi que, apesar de os dons serem bons, em si mesmos, ao propósito para o qual foram designados - a edificação dos outros - eles são vazios e desprovidos de poder para salvar a alma daquele que possui o dom, se isso for tudo que ele tem. Os dons também não são sinais de que uma pessoa se encontra num estado de bem-estar eterno, uma vez que eles são dispensados por Deus apenas a alguns que, depois de um breve tempo, devem prestar contas quanto a terem crescido ou não em graça àquele que está pronto para julgar os vivos e os mortos. Isso me mostrou que os dons são perigosos - não em si mesmos, e sim por causa dos males que sobrevêm àqueles que os possuem, isto é, orgulho, desejo de vanglória, presunção, etc. - tudo que pode estimular facilmente o aplauso e os elogios de todo cristão imprudente, colocando em risco a vida de um pobre pecador e, talvez, fazendo-o cair na condenação do diabo.

Vi, portanto, que aquele que possui dons precisa ser iluminado quanto à própria natureza dos dons, ou seja, que esses são insuficientes no que se refere à salvação da alma, a fim de que ele não se fie nos dons e seja destituído da graça de Deus. A pessoa que possui dons tem razões para andar humildemente com Deus, e ser pequeno aos próprios olhos, e lembrar, também, que seus dons não lhe pertencem, e sim à igreja, que por meio dos dons ele se torna servo da igreja e que, no final, ele prestará contas por sua administração ao Senhor Jesus. (Prestar boas contas será uma grande benção!) Que todos os homens, portanto, avaliem o temor do Senhor. Os dons são, realmente, desejáveis; mas grande graça e pequenos dons são melhores do que grandes dons sem a graça. Isso não significa que o Senhor concede dons e glória, e sim que o Senhor concede graça e glória; e bem-aventurado é aquele a quem o Senhor concede graça, verdadeira graça, pois esta é a verdadeira precursora da glória.

FONTE: Graça Abundante Ao Principal dos Pecadores, capítulo 10, páginas 140 e 141, Editora Fiel


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